
Você  sabe como a sua congregação gasta o dinheiro dos dízimos e ofertas  arrecadados? Você é informado sobre os custos rotineiros e os custos  eventuais que sua igreja possui? Você recebe relatórios informando os  detalhes dessa contabilidade? Afinal, há transparência com o dinheiro?  Há transparência na liderança de sua igreja?
Infelizmente,  eu presumo que poucos dos meus leitores podem dar uma resposta  positiva. Há igrejas que são exemplos de transparência com seus gastos,  mas a maioria não é, nem entre os membros com cargos na congregação, o  conhecido “presbitério informal”. O mundo das finanças é um completo  quarto escuro, cheio de surpresas e mistérios. 
O  discurso tido como espiritual costuma dizer: “Ah, eu dou o meu dízimo  como louvor e não quero saber o que fazem com esse dinheiro, pois já fiz  a minha parte”. Esse escapismo demonstra a completa falência do  conceito de igreja. Afinal, igreja não é uma comunidade? É possível um  casamento onde a esposa não sabe nada sobre os gastos do esposo e  vice-versa? Que comunhão eclesiástica é essa?
A transparência da liderança
Ainda  vivemos no Brasil uma cultura aristocrática (ao Rei tudo!), e a nossa  cultura contaminada é a mesma que contamina uma igreja “mundanizada”.  Ninguém pode contestar e a relação entre liderança eclesiástica e os  seus membros é distante e sem transparência.  O modelo congregacional, que era predominante dos primórdios do pentecostalismo brasileiro, simplesmente acabou.  Hoje vivemos não um episcopado, pois essa ainda possui virtudes, mas um caciquismo. 
É  interessante ler as cartas de Paulo e observa o nível de comunhão que  esse pastor-missionário possuía com as igrejas das quais ele havia  fundado ou passado. Há um diálogo aberto, onde ele apresenta os  problemas e soluções e fala do seu ministério, para transmitir confiança  as suas ovelhas. 
O  nono capítulo de I Coríntios mostra essa face transparente do apóstolo.  Ele apresenta uma justificação bem embasada sobre o motivo pelo qual um  obreiro é digno de sustento. Ele não ignora a preocupação da igreja  nesse tema, mas explica cada detalhe sobre o assunto.  Ao final mostra, ele mesmo, que abnegou desse direito legítimo. 
O teólogo canadense D. A. Carson comenta a atitude de Paulo:
Isso é admirável. Paulo se mostrou tão preocupado em provar sue próprio compromisso- sincero, espontâneo e voluntário- com a tarefa da pregação apostólica à qual havia sido chamado, que decidiu abandonar um de seus direitos. Ele renunciou o direito de ser sustentado, sabendo que essa decisão lhe custaria grande quantidade de tempo, esforço, labor e mal-entendidos adicionais. Mas ela o capacitou a pregar o evangelho “de graça” e ser um exemplo da liberdade da graça na maneira como servia. Essa renúncia também o capacitou a mostrar que servia não meramente por obrigação, mas também por conta de uma mente e vontade transformadas, de modo que, pela graça de Deus, ele estava, de fato, acumulando tesouros no céu. [1]
Veja  como Paulo era um homem transparente. Mostrou a dignidade do salário,  mas ainda assim renegou esse dinheiro. Eu não queria passar a ideia que  pregasse o Evangelho em busca de uma recompensa. Evitava ao máximo a  imagem de “aproveitador”, mesmo sabendo que era moralmente correto  receber ajuda das igrejas. Paulo fala em I Co 9.18: “Nesse caso, qual o  pagamento que recebo? É a satisfação de anunciar o evangelho sem cobrar  nada e sem exigir os direitos que tenho como pregador do evangelho”  (NTLH).
“Mulher de César” e o perigo do orgulho
E é curioso saber que hoje grandes lideranças evangélicas não estão “nem aí” com a imagem que passam para os seus rebanhos.  Podem até ser honestos, mas não são transparentes.  Muitos  são até arbitrários, e não aceitam nenhuma contestação. Outros, bem  desonestos, colocam a contestação legítima como “um grande pecado”, e  assim escapam pelo medo que colocam nas ovelhas.  E aí há os seguidores fanáticos que dizem: “Não toqueis no ungido de Deus” (sic)!
É  como diz o ditado: “Não basta que a mulher de César seja honesta, ela  precisa parecer honesta”. Um líder cristão que usa e abusa dos seus  direitos não está em sintonia com o Evangelho, pois não há renúncia. Se  um pastor acha humilhante a “prestação de contas”, então ele deixa de  fazer pelo orgulho humano tomar o seu coração e passa a achar que é um  sujeito incontestável, sendo o grande buraco da ruína.
O líder cristão transparente não ostenta e nem é cheio de autopiedade. Como disse John Piper:
Ostentação é a reação do orgulho ao sucesso. Autopiedade é a reação do orgulho ao sofrimento. A ostentação diz: “Eu mereço admiração por ter conseguido tanto sucesso”. A autopiedade diz: “Eu mereço admiração por ter me sacrificado tanto”. A ostentação é a voz do orgulhoso no coração dos fortes. A autopiedade é a voz do orgulho no coração dos fracos. [2]
O líder que esconde os seus feitos ou é desonesto ou é orgulhoso. É hora de prestar contas!
Referências Bibliográficas: 
[1] CARSON, Donald A. A Cruz e o Ministério Cristão. 1 ed. São José dos Campos: Editora Fiel, 2009. p 162. 
[2] PIPER, John. O Que Jesus Espera dos Seus Seguidores. 1 ed. São Paulo: Editora Vida, 2008. p 138.
Em Cristo, Ray Henrique.